Parece que este fim de semana o PS vai reafirmar a sua confiança em António José Seguro.
A corajosa candidatura de Aires Pedro não deverá impedir a reeleição do conhecido e afectuoso militante que, há muitos anos vinha preparando, com detalhe, a sua subida a SG.
Será ele, quase de certeza, o candidato do PS a PM.
Já o escrevo dezenas de vezes: não votarei em nem farei campanha por tal figura mesmo se ele lidera o meu partido de quase sempre.
Quase porque, curiosamente, também eu, ainda jovem, estive cerca de um ano, entre 1975 e 1976, no então PPD que já então se reclamava de social-democrata. Uma treta pegada como vim a descobrir..
O verdadeiro partido social democrata ou socialista democrático português é o PS.
Já fui militante do partido, já colei muito cartaz, já discuti muito com muita gente de outras ideias e , claro, já cruzei muitíssimas vezes o respectivo quadrado nos boletins de voto.
Sempre com convicção mas nem sempre entusiasmado.
O entusiasmo esteve com Soares, um pouco com Sampaio e Guterres e regressou com um certo secretário de estado do ambiente que se fez notar pela sua determinação, pela oratória clara e pela coragem com que enfrentava, desde o principio, todas as dificuldades.
Num ano, acabou com as lixeiras a céu aberto, enfrentando manifestações e imobilismos muito fortes. Lembro-me o que aconteceu em Porto de Lagos, concelho de Portimão. Esse lugar cresceu à volta de uma dessas lixeiras que ardia noite e dia, empestando as casas do lugarejo e quilómetros ao redor. Pois a população estava contra a construção de um aterro sanitário , uns quilómetros à frente, porque estaria demasiado...perto das casas. Veio a RTP, vociferaram, ameaçaram mas a obra foi mesmo para a frente e a lixeira encerrada.
Enfim,a um grande secretário de estado seguiu-se um grande ministro e um ainda melhor primeiro ministro.
Eu costumava pensar e dizer, com algum exagero, que o seu governo foi o único governo da República democrática.
Na verdade, não houve assunto em que não fosse feita ou tentada uma reforma, acudiu aos mais pobres, aos idosos, melhorou as escola, hospitais e atendimento no funcionalismo, melhorou o SNS, a economia cresceu, as contas estatais melhoraram como nunca. Para reformar enfrentou poderosos interesses que lhe fizeram a vida negra, como bem sabemos.
Quando saiu, com dignidade, depois de ter perdido as eleições, percebi que tinha o dever de defender a sua obra e a sua memória contra toda a patranhas,
invenções e, principalmente, contra a injustiça de o culparem pelo resgate, como se não houvesse Europa, como se não houvesse mundo, como se esse mundo não estivesse a viver a sua maior crise desde que , há muito tempo, nasci.
Cometeu erros? Decerto.
Só que nunca foi incompetente, muito menos ao ponto de "dar cabo disto tudo".
Quem se lhe seguiu à frente do partido, colaborou de forma vergonhosa com essa versão, deixando que a direita repetisse , vezes sem conta, que Sócrates era um poderoso e maléfico ser, cuja governação afundara de vez o nosso país.
E eu, que estava habituado a ver gente de alta qualidade, gente de valores à frente do PS, comecei por estranhar aquele enorme silêncio, para passar a indignar-me.
Foi essa vontade de combater a tal narrativa ( o Homem é mesmo eloquente, não é?) que me fez escrever, quase diariamente, mal ou bem, aqui ou em blogues, que me fez discutir com todos os que se atrevessem a repetir o que ouviam dos Camilos, dos Crespos, dos Marcelos, dos Gomes Ferreira, dos Raposos, dos Medina, dos M. Mendes e de uma infinidade de comentadores militantes da chafurdice.
Agora que o PS vai oficializar a candidatura de Seguro a PM, sinto ter chegado ao fim a vontade que me animou. Não faz sentido continuar a combater uma reafirmada escolha maioritária.
Sei que ele lá chegará porque o PS, embora sem o meu singelo voto, ganhará as próximas eleições.
É uma pena que outros militantes, com reais possibilidades de o derrotar em eleições internas, não tenham tido a coragem de se candidatarem.
É a vida.
Ficarei pelo blogue, já sem aquele espírito trauliteiro e entusiasmado que me manteve nessa luta de repor a justiça sobre os anos de exercício do melhor governante que Portugal teve.
Ficarei também por aqui, espaçadamente, para poder ler e debater com toda a gente boa e de qualidade que por aqui anda, tantos que nem me atrevo a nomear ninguém.
Descansa-me saber, que o próprio Sócrates, regressado à luta politica com a habitual energia e em grande forma, tratará, melhor do que ninguém da limpeza do esterco em que se tornou a politica portuguesa.
Afinal foi por aí que começou a sua carreira politica, limpando o lixo.
Bem hajam!
EJP
Publicado por DraftCraft app